Nádia Campeão: entrevista|com a vice-prefeita

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Nadia Campeão, vice-prefeita de São Paulo, da administração de Fernando Haddad.

O jornalista Gerson Azevedo, dos Guias Daqui, entrevistou a então candidata a vice na chapa de Fernando Haddad para a prefeitura de São Paulo. Leia abaixo a íntegra desta entrevista que foi publicada na edição de agosto de 2012 do Guia Daqui Perdizes Pompeia.

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Nádia Campeão fez da política sua principal atividade. Iniciou na luta estudantil e se filiou ao Partido Comunista do Brasil (PC do B) em 1978. Nascida em Rio Claro, é engenheira agrônoma formada na Esalq de Piracicaba. Por uma década, trabalhou e viveu no Maranhão junto aos camponeses através de uma Ong. Na volta para São Paulo, foi nomeada para o diretório estadual do partido. Foi secretária dos esportes no governo da prefeita Marta Suplicy (2001-2005). Foi candidata a vice de Aloizio Mercadante (PT) ao governo do estado. Agora, licenciou-se da presidência estadual do PC do B para ser a vice na chapa do ex-ministro da Educação, Fernando Haddad (PT). Moradora de Perdizes, Nádia fala sobre sua militância política e o que pensa da cidade de forma franca e aberta.

A política sempre fez parte de sua vida?
Na faculdade eu participava da luta estudantil. Participei do movimento estudantil, centro acadêmico, da reconstrução do DCE da USP e da UNE. Em 1978 ingressei no Partido Comunista do Brasil (PCdoB), que era o partido que mais atuava no meio estudantil. Sempre pensei na minha atividade após a minha formação acadêmica ligada à luta social.

Como foi sua experiência no Maranhão?
Depois de me formar em agronomia, ficar em São Paulo não era o ideal. Eu trabalhava para uma ONG que atuava com pequenos proprietários, camponeses e posseiros no Maranhão. A luta deles era pela terra, em primeiro lugar. Nessa época, os grandes latifúndios e empresas como a Alcoa e Vale do Rio Doce chegaram na região, em ocupação selvagem e violenta. Se aqui a situação era difícil, imagina como era a situação no Nordeste. A ONG oferecia um apoio técnico aos camponeses. Fiquei primeiro em Santa Luzia e nos últimos cinco anos, em São Luiz.

Sua família também tem atuação política como você?
Sou a única da família que atua ativamente na política. Mas eles me acompanham e apoiam. Meu marido, Walter Sorrentino, também é da direção do PCdoB. Atualmente por conta da campanha, estou licenciada da direção estadual do PC do B.

Como você foi escolhida para ser vice do Fernando Haddad?
O mais importante é a nossa aliança político-partidária. Retiramos a candidatura do Netinho de Paula, para formamos uma aliança com o PT, PSB e PP. Com a desistência da Luiza Erundina, o PSB ficou com a dificuldade de indicar outra pessoa. Nesse momento foi visto com naturalidade que o PC do B indicasse o vice. Indicamos três nomes: o meu, o da deputada Lecy Brandão e do vereador Jamil Murad. O Haddad consultou os outros partidos e me convidou.

Ser mulher ajudou?
Acho que a política hoje exige uma participação maior da mulher. Veja são 9 candidatos à prefeitura e apenas uma mulher (Soninha Francine, do PPS). A presença da mulher inspira uma maior renovação e é abertura para a participação de outras. Mas tenho uma trajetória político-partidária que acredito que dá um perfil político da chapa. Acho que tudo isso agrega valor à chapa. Fui vice da campanha do Mercadante (PT) em 2006, ao governo do estado. E quem está na política tem de aceitar algumas missões e tarefas aí em função de um projeto mais geral que a gente tem.

Você participa de tudo?
Não estou aqui para fazer figuração. Participo em tudo. Desde a elaboração do programa e das definições importantes.

Você já conhecia o Haddad?
Conheço ele da gestão da Marta Suplicy. Eu era Secretária de Esportes e ele, chefe de gabinete da Secretaria de Finanças. Eu sempre tinha que discutir a “falta” de dinheiro da minha secretaria. Tive muito contato com ele nessa ocasião. Ele teve um trabalho muito importante naquela ocasião.

Mulher vota em mulher?
Seria preciso ter mais candidatas mulheres. Eu acho que isso vem mudando bastante. Ela precisa acreditar que é importante atuar na política e se candidatar para exercer com convicção, não apenas para compor a chapa. Na medida que as mulheres assumem esse papel, cria mais confiança no eleitorado feminino que nós somos boas candidatas.

Seu partido dá espaço para elas?
Acho que o PC do B está acima da média. Nossa bancada federal tem quase a metade formada por mulheres. Dos dois senadores, uma é mulher. Temos candidatas a prefeitas em Porto Alegre, Florianópolis, Manaus e em Goiânia. Todas com chance de vencer. Somos duas candidatas a vice, eu e a Olívia Santana em Salvador. A política é um espaço ainda muito masculino. Aliás, a participação da mulher na política do Brasil é inferior a participação delas em outros países da América Latina.

Quais são as principais carências da cidade?
Disparado no momento é o atendimento à saúde. Faltam médicos, leitos, hospitais, filas demoradas. A seguir, vem o transporte público. Se os congestionamentos são demorados para quem está dentro do carro, imagina para quem está dentro dos ônibus. O metrô está sobrecarregado e não tem mais horário de pico. A terceira carência é a falta de vagas nas creches. As pessoas precisam deixar seus filhos para poder trabalhar.

E quais são as soluções?
Na saúde, precisamos aumentar a quantidade de leitos hospitalares. Temos um gargalo que precisam ser solucionados. Três hospitais prometidos na atual gestão estão na fase de “pré-pré-pré”. Precisamos avançar na gestão das unidades básicas e intermediárias. Elas não dialogam entre elas. É preciso melhorar a gestão e construir. Uma coisa é básica: precisamos de mais médicos. São Paulo é a cidade que tem mais médicos no país, mas eles não estão distribuídos na rede pública.

Por que?
As razões são várias: salário e melhores condições. O médico procura ganhar mais e trabalhar mais perto de casa, isso é lógico. Ele é disputado pelo  sistema privado e pelo sistema direto.  Essa disputa acontece não só na cidade de São Paulo, mas também com as cidades da Grande São Paulo. Temos também, um problema de recursos humanos precisamos melhorar o atendimento que existe. Precisamos usar as AMAs para pequenos procedimentos. Muitas vezes, as pessoas vão até o posto que tem o equipamento necessário mas não são atendidos porque falta o médico. Os hospitais deveriam ficar só para as especialidades.

E no transporte?
É avançar nos corredores de ônibus, melhorar as faixas exclusivas e privilegiar o transporte coletivo. O metrô na região de Perdizes está previsto para 2019. Espero ver isso com os meus netos. A lentidão do metrô de São Paulo é de dar nos nervos. Esta é uma das principais críticas à gestão do PSDB que está governando há muito tempo. O metrô é bem feito, mas é muito lento. O metrô da Cidade do México começou na mesma época do nosso. Eles têm cerca de 300 quilômetros. E precisamos aumentar a velocidade média de veículos sobre rodas. E investir mais em integração e novos equipamentos, veículos leves, mais baratos, com mais conforto.

E sobre as creches?
Precisamos construir mais e não tem conversa. É reunir recursos municipais, estaduais e federais para esse fim. Não é para ficar discutindo de onde vem o recurso. Tem recursos de todos os governos. A administração municipal precisa ser ágil e construir novas creches. É um caso de gestão. A atual gestão tem aí não sei quantas tentativas para construir. O negócio é abrir novas creches e aumentar os convênios.

Como o eleitor está encarando a próxima eleição?
O eleitor tem duas reações. Uma é de frustração e desânimo. E independe do nível de escolaridade do eleitor. Tem muitos parlamentares bem formados que são um zero à esquerda, que se envolvem em situações mal-feitas. Às vezes também não fizeram sequer um projeto de lei de interesse do eleitor. O problema está no compromisso, no conteúdo de cada parlamentar. Há uma frustração do eleitor com a política de forma geral. Mas ao mesmo tempo, você nota que ele está mais rigoroso. Ele cobra e exige mais. Ele não quer desperdiçar o voto. Hoje, o prefeito que cruza os braços e não corresponde, simplesmente perde a reeleição. Hoje, a cobrança é maior e o eleitor valoriz mais o seu voto. É um voto crítico e o eleitor é participativo. Não aceitam mais enrolação.

Você é a favor da ficha limpa?
Sou a favor, é claro. Mas é preciso separar casos e casos. Você não pode nivelar casos muito simples, onde a pessoas está recorrendo. Digamos que você fez uma prestação de contas e falta justificar 80, 100 reais e você está recorrendo. Esse não pode ser um problema de ficha limpa igual ao sujeito que foi o prefeito e teve todas as suas contas rejeitas e está envolvido em corrupção, foi cassado. É um avanço e a ficha limpa faz uma triagem básica.

O julgamento do Mensalão vai interferir nesta eleição?
Acho que vai aparecer nas discussões. O que vai polarizar nesta eleição é a situação da cidade. É o que será feito na saúde, na educação, porque a gente anda na rua e as pessoas não querem saber sobre o Mensalão, o Cachoeira… Quer saber o que será feito pela cidade.

Como você analisa a aliança da sua chapa com o PP e Paulo Maluf?
Em quase todos os partidos existem os fichas limpas e fichas sujas. O Maluf é uma figura de destaque e existem outros que não vou citar. Temos partidos políticos no país que tem uma ou outra liderança que tem governador, senador, deputado cassado. No nosso caso, precisávamos fazer aliança com partidos que estão próximos do governo da Dilma e o PP entrou no bojo dessa aliança entre o PT, PSB e PP. O apoio do PP foi disputado pelo PT e pelo PSDB. O PP tem bancada federal  e eleitores em São Paulo e o tempo de televisão é importante na disputa.

Sem rádio e TV não tem campanha que deslanche?
Em uma cidade com onze milhões de pessoas, sem você se comunicar pelo principal veículo de massa, pelo horário eleitoral gratuito, você já sai com menos chance na disputa.

Como é fazer campanha?
É desgastante mas é muito importante para você entender como a cidade é. É preciso caminhar, ouvir, conversar, participar de reuniões, de debates. O eleitor dá muita sugestão. E precisamos explicar de uma forma honesta o que dá para fazer ou não. Quem faz campanha precisa ser pró ativo. As pessoas dizem o que querem. A campanha é cansativa mas é ótima e é ótima e vale a pena!

Você mora em Perdizes desde quando?
Há 20 anos. Moro perto da PUC. Meu pai é o dono e me ofereceu quando voltei para São Paulo. É um sobradinho em uma vila de 1960 com trinta casas.

O que você gosta de fazer na região?
Adoro o Parque da Água Branca. Caminho e corro praticamente todos os dias pela manhã e levo meus netos para passear. Por aqui tem umas boas padarias. Vou muito à Pizzaria do Macedo e ao Shopping Bourbon por causa da livraria Cultura e pelos cinemas. O bom é que vou e volto a pé.

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