Treinador de ouro|do voleibol

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Foto:

Giovani Gávio

Uma
das figuras mais ilustres da famosa geração de ouro do vôlei
brasileiro, o jogador Giovane Gávio jogou em 414 jogos pela seleção
brasileira, conquistando inúmeras medalhas e chegou a ser premiado como
o melhor jogador do mundo em 1993. Depois de tantos anos dentro das
quadras, esse mineiro de Juiz de Fora agora fica do lado de fora, como
treinador. Atualmente no comando do time do SESI-SP, que treina no Sesi
da Vila Leopoldina, Giovane nos recebeu durante um de seus treinos para
nos contar sobre sua carreira como jogador e treinador de vôlei e
também sobre suas impressões do bairro.

Como você começou no vôlei?
Comecei
em Juiz de Fora, interior de Minas Gerais. Tinha 12 anos, na época em
que a seleção brasileira tinha sido vice-campeã mundial e vice-campeã
olímpica. Então, todo mundo na escola jogava vôlei, só se falava em
vôlei. Aí comecei a treinar.

Como foi sua primeira vinda para São Paulo pelo time do Banespa?
Foi
em 1987, fui contratado pelo Banespa como juvenil. Foi o primeiro
contato que tive com um time profissional. E foi quando eu conheci pela
primeira vez grandes jogadores e tive a oportunidade de ver de perto
realmente como era ser um jogador. Dessa casa saiu eu e o Marcelo
Negrão. Nós começamos juntos.

Depois você jogou na Itália.
Em
1990 fui contratado para jogar lá. Já era da seleção brasileira e
fiquei quatro anos na Itália. Foi uma experiência muito boa e
enriquecedora.

Há diferença no vôlei italiano e no brasileiro?
Na
época tinha mais, agora já está mais equilibrado. Os melhores jogadores
do mundo iam para lá. Era o melhor campeonato do mundo. Como
aprendizado, foi muito bom. Nesse meio tempo veio a primeira grande
conquista, que foi a medalha de ouro olímpica em 1992.

Como foi sua experiência na seleção?
A
primeira convocação foi em 1989. Em 90, teve mundial no Rio de Janeiro
e ficamos em quarto lugar. Já foi uma experiência muito forte. Depois
em 92, veio a medalha de Barcelona, e nossas vidas mudaram. Começou a
ter muito assédio, viramos ídolos.

Dos títulos que você conquistou com o time, o de Barcelona foi o que mais significou?
Foi.
Acho que você romper a barreira da vitória, a dificuldade da primeira
vez, é sempre muito marcante. A gente era muito jovem ainda, não tinha
muita noção de nada. Foi um aprendizado muito grande, experiência
única. Depois fui bicampeão olímpico. Foi tão bom quanto, mas a
primeira é diferente. As coisas novas sempre marcam muito mais.

Você ganhou muitos títulos individuais também. Tem algum mais especial?
Em
1993, fui eleito o melhor jogador do ano naquele ano. Era um sonho de
criança, mas eu digo que trocaria esse título por algum outro que
perdemos, como o campeonato mundial em 94 e a olimpíada em 96. Quando
jogamos em esportes coletivos, podemos até conviver com prêmios
individuais, mas não acho que é o mais importante, não.

Como foi fazer parte da chamada geração de ouro do vôlei?
Isso
foi a parte mais bacana de toda a minha carreira como jogador, ter
feito parte dessa e da outra também, a que foi campeã em 2004. Foram
dois momentos diferentes do vôlei. Em 1992, tinha vantagem, um jogo
mais lento, mais técnico. Em 2004, era um jogo mais rápido, mais forte.
Ter participado das duas foi muito bom também pelo aspecto de que, em
92, eu jogava mais. Em 2004, eu não jogava tanto. Ficava mais no banco.
Mas participava com outras coisas que antes eu não participava. Foi uma
experiência que serviu e vai servir de lição para o resto da vida.

Como foi o tempo que você foi jogador de vôlei de praia?
Foi
bom ter passado por esse período. Uma experiência diferente, um tipo de
jogo diferente. No vôlei de praia, você participa mais do jogo. A gente
acha que é fácil e é muito difícil. Todo mundo queria ganhar da gente.
Não era fácil suportar essa pressão.

De onde surgiu a parceria com o Tande?
Foi
na olimpíada de 96. Eu não aguentava jogar mais na quadra, tinha sido
muito criticado, muito perseguido como responsável pela derrota. Eu
falei que iria embora jogar em outro lugar, ter uma vida diferente. Eu
liguei pro Tande, tentando formar uma dupla com ele. Ele aceitou e foi
uma experiência muito bacana.

E como você resolveu que era a hora de sair do vôlei de quadra?
Eu
já tinha conquistado Atenas, o bicampeonato olímpico, tinha sido
campeão mundial de 2002. Tinha recebido uma proposta para gerenciar um
projeto de vôlei de uma universidade. E isso me encantou. Eu falei que
já não tinha muito a acrescentar como jogador. Agora seria do lado de
fora. Fiquei dois anos como gerente de esporte desse projeto, em
Florianópolis, e depois resolvi virar técnico.

Como foi seu convite para vir treinar o SESI-SP?
Foi
uma coincidência de interesses. Precisávamos de alguém e o SESI estava
buscando uma oportunidade de entrar em um esporte de alto rendimento.
Aí unimos o útil ao agradável. E, em pouco tempo, a estrutura aqui foi
sendo adaptada. Hoje, temos umas das melhores estruturas do voleibol
brasileiro.

Quando você voltou para São Paulo?
Eu voltei em maio. Moro no Alto de Pinheiros, perto do Shopping Villa-Lobos.

Você já conhecia a região?
Não
conhecia e me surpreendi bastante com a qualidade e o crescimento que
teve. Nem parece que você está em São Paulo. Um bairro tranquilo, onde
a gente consegue levar uma vida um pouco fora da correria toda que São
Paulo tem. A maioria, 95% do time mora na rua, na Carlos Weber, e isso
facilita bastante. E o Parque Villa-Lobos oferece para a gente uma
opção legal de lazer no fim de semana. Eu tenho quatro filhos e eles
precisam correr. Foi uma grande oportunidade. Estamos supercontentes
aqui.

Tem algum lugar que vocês gostam de ir por aqui?
Durante
os primeiros meses, malhamos na academia aqui da frente, a Vibe.
Tomamos café na padaria aqui do lado. Eu faço compra de frutas e
verduras na Ceagesp. Nossa vida é muito corrida, então não temos muito
tempo para fazer muita coisa.

Como você se sente sendo o treinador agora?
É
um desafio. Cada dia a gente aprende mais. O relacionamento com as
pessoas é muito importante. Antes eu me preocupava comigo, com a minha
gestão. Hoje, tenho que me preocupar com 30 pessoas. Acho que esse é o
grande diferencial: estar sempre tentando antecipar as coisas que vão
acontecer.

Você não fica com vontade de entrar no meio do jogo, principalmente quando eles fazem algo errado?
Não,
passou já. No começo, dava. Agora não. De vez em quando eu bato uma
bolinha. Mas tenho conseguido ter satisfação como treinador, em ver a
equipe jogando bem, ver o time se realizando. Acho que isso é o motivo
de eu ter escolhido esta profissão: continuar tendo essas sensações.

Como está, este ano, o trabalho do time?
Está
bom. O primeiro campeonato que disputamos a gente ganhou, que foi a
Copa São Paulo. Agora estamos disputando o segundo, o Campeonato
Paulista. Semana que vem começam as semifinais. Espero participar de
mais uma final. E espero ver essa arquibancada lotada, cheia de
crianças, cheia de gente sentindo entusiasmo por esse time.

Você também dá palestras. São motivacionais?
Isso.
São experiências que eu vivi ao longo desses anos. Não é nenhuma
fórmula de sucesso, nenhuma receita de nada. Eu só compartilho essas
histórias, acontecimentos que servem de estímulo para muita gente. Não
tenho pretensão de ensinar nada para ninguém, só de compartilhar.

Como você lida com seus fãs?
Agora
eu lido com as filhas das minhas fãs. Minhas fãs tinham 16, 17 anos.
Agora já devem estar com 30 e poucos anos. E já tem filhas de 10, 11
anos. Já estou pegando a segunda geração. É legal. De vez em quando
elas vêm e falam “minha mãe pediu para tirar uma foto” (risos). O
assédio, o brilho dos olhos de uma criança que olha para você como se
você fosse um super-herói é muito marcante, muito gostoso. Ser
apreciado, admirado por alguém é muito bom, ainda mais sendo que você
fez uma coisa boa.

O que o vôlei te proporcionou na vida?
Hoje,
minhas amizades estão dentro do vôlei. Tudo o que tenho foi graças ao
vôlei. A maior riqueza que conquistei, na minha opinião, foi o respeito
e a admiração das pessoas. Motivar uma pessoa que às vezes está
desistindo de lutar. Isso é a coisa mais valiosa que eu tive.

E pretende seguir essa carreira de treinador por um bom tempo?
Ah,
sim. Tem que querer e almejar sonhos maiores. Tenho muita coisa para
adquirir ainda. Às vezes não é só estudando. É passando pelas
dificuldades, pelas experiências, que a gente vai aprendendo.

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