Vida de Modelo

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Modelo desfila em evento na pompéia


Ser uma modelo não é tão simples como parece. Normalmente só é mostrado em revistas a parte glamourosa dessa carreira, e as pessoas acabam esquecendo que também é preciso um trabalho árduo e que o sucesso não é uma coisa fácil de se alcançar. Uma boa carreira acontece se for administrada por uma boa agência. A Agência Capuano, localizada na Pompéia, já está há dez anos no mercado e trabalha com vários tipos de modelos. Conversamos com José Roberto Capuano, proprietário da agência, que nos conta um pouco como funciona esse mercado.


Como começou a agência?


A Agência Capuano começou numa brincadeira. Fomos ajudar uma ex-funcionária, que havia tido uns problemas com a agência dela. Ela teve que parar com a agência e me pediu ajuda. Eu acabei montando uma agência e coloquei-a pra tocar a agência e a coisa foi evoluindo.


Por que vocês escolheram o bairro para a agência?


Nossa vida sempre foi aqui. Sempre fui do bairro, sou diretor conselheiro do Palmeiras há alguns anos. A gente frequenta a sociedade aqui do bairro. A parte de Perdizes e Pompeia é a nossa área.


Como é o dia-a-dia da agência?


Temos um casting grande. Hoje está gerando em torno de 3 mil agenciados. Fazemos seleção para todos os tipos de eventos. Eventos bilíngues, trilíngues.



Quais tipos de modelos vocês possuem no casting?


Nós temos modelos que têm corpo. Quando fazemos nosso desfile, é para vender aquele produto, não para mostrar uma tendência. O lojista quer que a menina vista a roupa dele e os compradores olhem e digam “essa roupa ficaria boa em mim”. Porque, se a modelo é muito magra, o cliente fala “pra ela fica ótimo, mas para mim não”.


Vocês buscam algo de diferente na pessoa?


O principal é o carisma, porque ela vai lidar com o público. Quer seja desfilando ou não, ela precisa ser simpática. Precisa mostrar uma postura. E o físico, no geral.


Depois da seleção, eles passam por algum tipo de treinamento?


Costumamos dar um curso. Esse curso é baseado em noções básicas para uma modelo. Damos uma preliminar em relação a como participar de um desfile, como se comportar em frente a uma câmera, tanto fotográfica quanto de filmagem. Damos uma base de como deve se portar para não se perder na hora, não ficar confusa. E aí vamos lidando com o dia a dia.


Vocês agenciam gente de fora também?


Temos muitas meninas no Rio de Janeiro. As meninas de lá nos procuram bastante. Rio Grande do Sul tem muita procura também. Tanto que a nossa tendência é criar uma filial no Rio, a quantidade de meninas já é grande o suficiente para isso. E nós temos uma tendência muito grande de trazer meninas do Sul para cá.


Vocês fazem algum acompanhamento com as meninas que estão em São Paulo longe da família?


Participamos muito da parte familiar. Eu trabalhei 12 anos no juizado de menores, então tenho um cuidado todo especial em relação a menores. Temos uma tendência meio de paizão em relação a isso. As meninas vêm para cá e tem muitas que a gente acaba acomodando. E não é só acomodar. Nós acompanhamos. Qualquer deslize a gente encaminha de volta.


E o relacionamento com os pais das meninas?


É muito bom. Inclusive tem muitos que encaminham para a gente exatamente por isso. Tem agências que não são tão sérias. Toda fatia de mercado tem. E isso prejudica muito. Aqui é uma empresa familiar. Quem toca essa empresa sou eu e meus filhos: a Flávia, o Fábio e o Felipe.


Como vocês lidam com os pais que querem os filhos famosos?


Nós somos muitos sinceros. A pessoa que não está dentro do perfil, nós já falamos, mesmo que magoe um pouquinho. Às vezes a pessoa não tem dinheiro suficiente para um book e gasta um monte de dinheiro. Ou a pessoa vai numa agência e tem que fazer muita coisa. Tem meninas que não tem a menor condição de fazer o trabalho e vão e gastam dinheiro.


É difícil falar não para uma modelo?


Às vezes eu até recebo críticas porque sou muito claro. Falo exatamente o que acho. Eu não engano, não. Acho que não tem essa necessidade. O importante é orientar. Tem menina que não é tão bonita, mas tem uma presença legal, um nível legal, é bilíngue, trilíngue, pode ser usada muito mais que uma menina só bonita. Não adianta falar que ela vai fazer muito sucesso. Isso é muito relativo. É uma questão de oportunidade.


Mas ela precisa chegar com um book de fotos pronto?


Nós aqui trabalhamos assim: quando ela não tem foto, e precisa de foto porque tudo é pela internet, fazemos algumas poucas fotos aqui no nosso estúdio e cobramos uma coisa pequena. Ela gasta no máximo R$ 150,00 e paga as fotos necessárias para trabalhar. Aí depois, vai ganhando seu dinheiro e aí sim tem que ter um material bom de trabalho para poder fazer um trabalho mais elevado.


Depois de quanto tempo eles começam a trabalhar?


Depende de se encaixar no pedido do cliente. Tivemos uma menina que veio, preencheu uma ficha, e no mesmo momento tive um pedido de uma bilíngue e eu já encaixei a modelo que estava aqui com a gente. E ela tem que viver uma vida de modelo.


E o que é essa vida de modelo?


Eu sempre falo: a diferença de uma modelo para uma moça bonita é muito grande. A forma de se portar, de andar, tudo. Estar sempre arrumada. Modelo, quando ela se destaca, é pela beleza, pela postura dela. Não é só pela forma do seu corpo.


Como funciona o processo de escolha de trabalho?


Nós temos um trabalho mais específico com feiras. Depende do cliente. O cliente liga pra gente e especifica o perfil. Ele vai dando algumas sugestões e a gente entra no casting e elimina as que estão fora das exigências dele. Tem cliente que gosta de selecionar por foto e tem outros que escolhem primeiramente por foto e depois marcam uma seleção para entrevista.


Vocês atendem muita gente do bairro?


Bastante. Principalmente a parte de lojistas. Participamos na última Feira da Pompeia, onde fizemos um desfile na rua. E queremos continuar isso. Devemos continuar fazendo essas feiras. E sempre aqui no bairro, principalmente por causa desse vínculo que temos aqui.


Que tipo de perfil os clientes buscam mais?


Eles escolhem muito meninas que não sejam só bonitas. Ela tem que ter um pouco mais de inteligência. Uma menina que se porta bem. Antigamente, usava-se menina que era só bonita. Hoje é bonita, mas ele quer um comportamento diferenciado. Numa feira principalmente, ela é o cartão de visita, a pessoa que vai receber os clientes. Então ela tem que ter uma postura.


O mercado está mais democrático?


Existe uma tendência ainda muito grande às loiras. Mas existe uma boa mescla. Não tem mais essa de não contratar outros tipos. Aliás, tem bastante preferência também por negros, mestiços.



Vocês têm clientes internacionais também?


Já teve casos de fazermos catálogos com gente de Miami. Tem uma certa preferência porque aqui a gente faz o catálogo usando a parte externa. E Brasil é Brasil. Tem muita coisa bonita aqui pra poder fazer catálogo.


O Brasil ainda está em alta lá fora?


Eu acho que sim. As nossas meninas são muito bonitas. Isso é notório. Tem meninas maravilhosas. O que atrai muito é o corpo. As brasileiras têm um corpo todo especial.


Antes de entrar no mundo da moda, o que é importante saber?


Não é uma coisa difícil não, é até fácil. Precisa ter um bom comportamento. Nós temos 3 mil modelos atuantes, mas sempre tem aquelas que temos uma certa preferência por causa do comportamento em si. Sabemos que vamos colocá-la numa feira e que ela vai chegar no horário, vai trabalhar direitinho. O que a modelo precisa ter é vontade principalmente, porque ela vai ter que ir em muita seleção, vai ter que batalhar bastante até conseguir abrir o espaço dela no mercado.

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