Vida Alves, paixão|pela telinha

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Vida Alves

A carreira da atriz Vida Alves está
intimamente ligada à TV brasileira. Nascida em Itanhandu (MG), iniciou
sua carreira no rádio como cantora-mirim e fez radionovelas. Em 1950,
com a inauguração da TV Tupi, dividia seu tempo entre o rádio e a
televisão. Na primeira novela, “Sua Vida Me Pertence”, formou par
romântico com Walter Foster e juntos protagonizaram o primeiro beijo da
TV, que teve uma grande e ruidosa repercussão. Vida, além de atriz,
escreveu programas e novelas para o rádio e TV. Escreveu o livro
“Vida… uma Mulher” e ministrou cursos de comunicação depois que
deixou a TV. Seu espírito pioneiro a levou a criar o Museu da TV e a
Pró-TV – Associação dos Pioneiros, Profissionais e Incentivadores da
Televisão Brasileira, que ocupa boa parte da sua residência no Sumaré,
bairro onde mora desde 1950. Mãe de um casal de filhos, ela se prepara
para ganhar sua primeira bisneta neste ano. Nesta entrevista, ela fala
sobre sua carreira e sua luta para preservar a memória da TV
brasileira.

Comecemos pelo famoso primeiro beijo da TV brasileira com Walter Foster, que deu o que falar.
Foi
em 1951, na novela “Sua Vida me Pertence”, da TV Tupi, que era o único
canal de TV que existia. Foi uma coisa delicada. O beijo não foi
escandaloso. Causou escândalo por ter sido o primeiro. Foi um trabalho
profissional e harmonioso. Mas aconteceu bastante burburinho. Os
diretores da novela ficaram preocupados em não chocar.

Por que chocou?
O
beijo naquela época era mais sigiloso. Não só na TV como no dia a dia
das pessoas. No cinema e no teatro, existia pouco. Nas casas, acredito
eu, só com as portas fechadas. Hoje em dia, todo mundo se beija em
todas as praças, em todos os lugares… com mais naturalidade. A
televisão entra dentro das casas das pessoas sem pedir licença…

Qual foi a sua reação?
Eu me fechei em copas. Não comentei e evitei dar entrevistas. Passei alguns dias alheia e foi muito melhor para mim.

Era tudo ao vivo?
O
videotape só veio aparecer em 1963. A novela não era o principal
produto da TV. O Grande Teatro Tupi é que era o principal programa da
TV. Por isso a novela começou pequena e só tínhamos um estúdio. E
fazíamos alguma coisa pelas ruas do bairro. Não se usava espaços
externos. Não tínhamos cidades cenográficas. Fazíamos a cada 15 dias um
Grande Teatro, com seis ou sete cenários, enquanto a novela tinha dois
ou três.

Você atuava tanto nas novelas como no Grande Teatro?
Sim.
As novelas não eram importantes. Eu era importante. Não só no Grande
Teatro, como na novela e no rádio. Fazíamos as três atividades ao mesmo
tempo. Eu escrevi 14 novelas para o rádio e três para a televisão e
seriados.

Com quem você atuou?
Muitos deles ainda
estão trabalhando. Lima Duarte, por exemplo, é um deles. Ele atuou na
primeira novela e no primeiro Grande Teatro: “O julgamento de João
Ninguém”, escrito por Dionísio Azevedo. O Lima Duarte era o João
Ninguém. Ele foi um grande astro desde o primeiro momento.

Como você foi para a TV?
Eles escolheram no elenco da rádio quem fotografava bem. E naquela época a TV nem patrocinador tinha. Era muito experimental.

É verdade ou folclore que o Chateaubriand teria feito a inauguração da Tupi quebrando uma garrafa de champanhe em uma câmera?
Ele
era muito louco, mas nunca foi burro. Isso é lenda, piada, brincadeira.
O que aconteceu é que das três câmeras, uma delas quebrou após o ensaio
geral. Haviam dois estúdios. Ela simplesmente pifou e foi resolvido na
hora. Como ali tinha muitos jornalistas, cada um inventou uma história.

Os Diários Associados eram uma potência aqui em São Paulo e no Brasil?
Os
Associados em São Paulo englobavam emissoras de rádio – Tupi e
Difusora, depois a Cultura; a TV Tupi e dois jornais diários: Diário da
Noite e Diário de São Paulo. Em São Paulo era um conglomerado. E o
mesmo acontecia pelo Brasil. Era uma potência.

Depois da Tupi você passou por outras emissoras…
Fiquei
nos Associados por 22 anos. Depois fui para a TV Excelsior, que acabou
falindo antes da Tupi. Depois trabalhei na TV Gazeta, onde foi lançado
o primeiro programa em cores, “Vida em Movimento”. Era um programa de
entrevistas.

E depois da TV, o que você fez?
Saí da TV
em 1980 e passei a organizar cursos de comunicação junto com a minha
filha, Taís Alves. Eu viajava pelo Brasil inteiro. Dava aulas de
comunicação para vendedores, empresários. De uns anos para cá, deixei
esse trabalho e a minha filha continua.

Você mora no Sumaré desde quando?
Estou
aqui há mais de 50 anos neste mesmo endereço. Meu marido (falecido),
Gianni Gasparinetti, era engenheiro e ajudou a montar a TV. Hoje o
bairro verticalizou-se bastante. Onde moro continua bom para se viver.

Como surgiram a Pró-TV e o Museu da TV?
Eu
estava longe da televisão e fui a um enterro de um ex-colega e amigo. E
lá me deu uma vontade grande de fazer isso. Tive a impressão de ouvir
uma voz dizer: “Vida, faça alguma coisa para a televisão”. Não sei
muito bem das coisas do além. Mas eu pensei: “Eu não sou contratada por
nenhuma emissora…” Então pensei em fazer alguma coisa. A partir daí
comecei a erguer o Museu da Televisão. Me reuni com outros amigos e
começamos em 1995 e desde então sou a presidente.

O acervo é muito grande. Equipamentos, livros, fotos…
Cerca
de 5 mil fotos. Pelas paredes, tenho cerca de 300 fotos. Em 2008, foi
reconhecido pelo Ministério da Cultura. Mas não recebo nenhuma verba
pública. Ele é mantido pelos associados pagantes e algumas doações.

As emissoras de TV colaboram com o Museu?
Muito
pouco. Eu não sei exatamente por quê. Acho que o brasileiro tem
dificuldade em dar dinheiro para um espaço de memória como o nosso. Já
procurei governos e particulares.

Este ano a televisão brasileira chega aos 60 anos…
Espero estar com todo o gás para poder fazer uma bonita festa em homenagem à televisão, em setembro de 2010.

Museu da TV
Rua Vargem do Cedro, 140, Sumaré
Telefone 3872-7743 (agendar visita)
www.museudatv.com.br

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