A batalha do perde-perde

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Uma vez o saudoso chefe xavante Mario Juruna me perguntou: “Por que é que a gente só perde?”

 

Fiquei refletindo por muito tempo essa indagação. E agora de novo, no Congresso Nacional, estamos assistindo à crescente manifestação das vozes do atraso.

 

Sorrateiramente, volta à pauta com modificações agravantes o projeto que traz à Câmara dos Deputados o poder decisório sobre as áreas indígenas, quilombolas e de preservação ambiental. Com essa configuração, a possibilidade de derrotas me traz de volta à preocupação do velho cacique Juruna.

 

Por que é que a gente só perde?

 

Durante a Constituinte, fizemos um acordo com os povos indígenas que suas terras seriam propriedades da UNIÃO. E a ruptura desse acordo quase 30 anos depois pode levar ao extermínio dos índios, dos quilombolas e das reservas naturais. E é isso a PEC 215.

 

Por outro lado, do ponto de vista industrial em meio a essa crise econômica profunda que vivemos, sabendo que as pequenas e médias iniciativas é que podem garantir emprego e renda para os brasileiros, o governo federal disponibiliza oito bilhões de reais para salvar a indústria automobilística.“Só Raul Seixas me conforta: Pare o mundo que eu quero descer.”

 

Nem o sinal que Detroit, capital do automóvel, deu ao mundo pedindo concordata diante da sua eminente falência foi suficiente para que as autoridades brasileiras repensassem a mobilidade urbana. E tome engarrafamento nos neurotizando e tome combustível fóssil envenenando o nosso ar. Mais ruas e viadutos para fazer fluir o trânsito em detrimento das áreas de convivência e áreas verdes nas cidades.

 

Diante de tanta impossibilidade, resta-nos sonhar. E se sonhar é navegar, só o velho samba dizendo: “não sou eu quem me navega, quem me navega é o mar…”

 

José Luiz de França Penna
Presidente de Honra do Centro Cultural Vila Madalena

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