Osmar de Oliveira|Vida com os atletas

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Osmar de Oliveira

Osmar de Oliveira começou na medicina, depois se formou também em jornalismo e hoje exerce as duas profissões com maestria. Além de comentarista esportivo na TV Bandeirantes, ele também é ortopedista e possui uma rede de clínicas, com uma há 15 anos em Perdizes. Nesta entrevista, ele conta sua história com os esportes, em especial o futebol, os tempos em que foi médico do Corinthians, quando entrou para a televisão e sua carreira na telinha (ele já passou por todos os canais de TV aberta) e também sobre o seu trabalho com medicina esportiva.

Você se formou em medicina e depois em jornalismo. Como escolheu cada profissão?
Quando eu era jovem, as opções de escolha eram muito pequenas. Ou você fazia engenharia, ou medicina ou direito. E fui decidir mesmo no meu último ano do colegial. Decidi pela medicina talvez porque tivesse um pouco de dom, imagino eu. Logo que me formei, eu trabalhava muito, porque fazia residência, dava plantão. Cheguei a conclusão de que eu estava ficando um pouco “emburrecido”. Eu não conseguia acompanhar a evolução do mundo, não tinha tempo de ler, não dava para assistir televisão, mal lia o jornal. Aí, resolvi fazer uma faculdade para que me colocasse de volta ao mundo moderno. E só poderia ser comunicação social. Eu não entrei pra ser jornalista, entrei para aprender alguma coisa a mais. Achava que eu tinha jeito para escrever, mas que eu precisava aprender a escrever.

É difícil lidar com duas profissões que exigem bastante tempo?
Tenho uma filosofia de vida que eu não perco tempo para nada. Leio muitos jornais, fico na internet direto para saber o que está se passando, acompanho muito o futebol, e tenho meu tempo da medicina que, geralmente antes de dormir, tudo o que eu recebo aqui de atualidades de medicina eu levo e leio. E depois eu ainda faço Sudoku. Sou louco por isso. Meu pai era um trabalhador também, meus irmãos são assim. Estou toda hora fazendo alguma coisa.
O senhor sempre gostou de esportes, de futebol?
Meu pai era alfaiate e um torcedor do Corinthians fanático. O companheiro dele era o rádio. Eu cresci dentro da alfaiataria escutando rádio e ouvindo o que meu pai falava do Corinthians. Eu sempre brinco que não nasci corinthiano, fui concebido corinthiano porque até o espermatozóide do meu pai era corinthiano. Quando eu fiz 7 anos, meu pai me levou num jogo pela primeira vez e fiquei encantado com aquilo que eu via no estádio do Pacaembu. Eu joguei muito futebol, virei dirigente de clubes de várzea. E, no meu ano de cursinho, eu tive proposta para ser jogador de futebol. Mas resolvi não aceitar. Durante minha carreira de medico, eu fui um dos idealizadores de um programa que tem até hoje na secretaria municipal de esportes que chama “adote um atleta”, em que a gente tinha atletas de futuro promissor em todas as modalidades esportivas. Aí eu tive o prazer de ser médico da Hortência, da Paula, do João do Pulo, do Oscar, do Marcelo, todos esses grandes astros brasileiros. Aí eu comecei a aprender não só o futebol, mas também boxe, atletismo, natação. E não parei mais.

O gosto pelo futebol o influenciou a virar ortopedista?
Eu entrei na faculdade pensando: “um dia eu vou ser médico do Corinthians”. E acabei sendo.

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E como o senhor conseguiu entrar no Corinthians?
Na faculdade, quando faltava um professor, eu ia visitar o pronto socorro. Numa tarde, chegou uma mulher com um quadro de abdominal agudo. O cirurgião de plantão mandou ela subir imediatamente e me vendo ali, me chamou para ajudá-lo. O anestesista dessa cirurgia era o médico do time da cidade, o São Bento de Sorocaba. Durante a cirurgia, ele estava se queixando que iria começar o campeonato, que ele não aguentava mais e que ia pegar um garoto da faculdade para ajudá-lo. Eu levantei a mão e falei: sou eu. No São Bento de Sorocaba, eu era mais jovem que os outros médicos, fazia um trabalho mais moderno. Isso começou a chamar a atenção do presidente do Corinthians. Ele soube que eu era corinthiano e me fez um convite. Fui para ser médico do basquete e do futebol amador e, em um ano, passei pro futebol profissional. Foram 9 anos que marcaram muito minha vida.

Como entrou para a TV?
Na Copa de 78 havia um programa na TV Gazeta que era líder de audiência em termos de mesa redonda de futebol. Um jogador da seleção brasileira foi cortado por problemas médicos e eles me convidaram para dar uma entrevista. Esse programa era feito por um comandante e 11 jornalistas. Nesse dia, um deles faltou e eu, como entrevistado, acabei virando o 11º dessa mesa. Eles acharam que eu tinha jeito de olhar para a câmera, de falar, e pediram que eu continuasse. Comecei e não parei mais.

O senhor trabalhou em todas as TVs abertas. Como está sendo essa experiência na telinha?
Eu comecei em 78, na Gazeta. Durante essa passagem, fazia transmissões de jogos de basquete. Em 81, a Globo comprou os direitos do campeonato paulista de basquete. Como eu era o único locutor de basquete, ela me chamou e eu fui. Fiz também futebol, Jogos Panamericanos. O Luciano do Vale saiu da Globo e foi montar na Bandeirantes o Show do Esporte. O projeto era maravilhoso, ele me convidou e eu, fascinado por essa ideia, fui. Em 85, o Silvio Santos resolveu montar uma equipe de esportes e me convidou para tomar conta. Depois a Manchete começou a se instalar aqui e me chamaram. Fiquei lá por 2 anos. O Silvio Santos me chamou de volta porque ele queria reerguer o departamento de esporte. Depois, fui trabalhar na PSM, uma emissora americana que estava se radicando aqui no Brasil. A Record estava crescendo, resolveu encampar o futebol e lá fui eu. Quando acabou, eu fui para casa achando que tinha terminado o ciclo. Mas a Band me chamou de volta e estou lá até hoje.

Dos jogos que já narrou, qual foi o mais emocionante?
Na Copa que a Argentina foi campeã do mundo, eu narrei o gol de mão do Maradona. Em 87, o Brasil, disputando os jogos Panamericanos de Cuba, fez a maior exibição que existiu até hoje em termos de basquetebol brasileiro. Narrei o recorde do Ben Johnson nos Jogos Olímpicos de Seul, foi uma marca fantástica. E logo em seguida, fui eu quem anunciou em primeira mão que ele estava dopado. Foram várias coisas, mas essas foram muito marcantes.

O senhor lida muito com doping na medicina esportiva?
Quando eu saí do Corinthians, estava começando o controle de dopagem mais rigoroso no Brasil. O presidente da Federação Paulista de Futebol na época resolveu criar um departamento e me convidou. A CBF também me convidou, quatro anos depois, e eu fui tomar conta no departamento lá no Rio de Janeiro. Acabei me viciando no estudo da dopagem. É uma matéria muito difícil. É fácil fazer o controle. Agora o estudo é muito difícil, porque envolve muita química. E sou um dos poucos que estuda isso aqui no Brasil.

Muitas pessoas viraram atletas de fim de semana. Isso é arriscado?
Elas podem se exercitar e devem. Se você fizer atividade física menos do que três vezes por semana, você não vai ganhar grandes benefícios. Se você só conseguir fazer duas, de qualquer maneira você está queimando gordura, mexendo sua musculatura e melhorando a qualidade do seu sono. Mas se você não tem tempo para nada e só consegue correr um pouco no parque no domingo, você não está se tornando um esportista nem um atleta. O momento é ideal para um  contato com o sol, de jogar pra fora o estresse da semana, e de ter uma certa sociabilização.
E que cuidados eles devem tomar?
Não pode chegar e sair jogando. Tem que fazer alongamento. Se ele tomar cuidado com o alongamento e não se exceder na atividade, ficar extremamente cansado, está perfeito. E eu ainda aconselho: se você já completou 25 anos, mesmo que ache que é saudável, vale a pena passar num médico para ele dar uma olhada no coração. Passou de 35 anos, além disso, vale a pena exames de laboratório e fazer o teste de esforço para ver como o coração se comporta na hora do esforço físico.

Quais casos são mais comuns na sua clínica?
Minha clínica tem essa figura de ser muito voltada para a medicina esportiva. Aqui tem pacientes de todo tipo. Mas tem uma quantidade grande de pessoas que tiveram problemas ortopédicos por causa de atividades físicas ou aquelas que ainda não tem problemas mas já vem nos procurar para saber o que tem que fazer para que a atividade física não prejudique o meu corpo.

Quando elas devem procurar o médico?
Eu acho que, se você vai começar uma nova atividade física, vale a pena ir conversar com um médico. E, a cada dor que foge da dorzinha normal de esforço vale a pena ir ao médico, porque uma dorzinha na coxa que nunca aconteceu pode ser um começo de uma distensão muscular.

www.osmardeoliveira.com.br

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