Criada em 1971, a APAS – Associação Paulista de Supermercados, é uma entidade que reúne empresários supermercadistas do Estado de São Paulo. Entrevistamos nesta edição o administrador João Sanzovo Neto, seu presidente desde 2006 e que está em um segundo mandato que vai até setembro do próximo ano. O setor gera cerca de 300 mil empregos diretos e outros 900 mil indiretos. As lojas no Estado de São Paulo representam 31% de todo o setor brasileiro. Nesta conversa, ele fala, entre outras coisas, sobre o papel do setor e suas ações sociais e de sustentabilidade, além da participação dos supermercados no dia a dia das famílias.
Como surgiu a Apas?
A Apas surgiu no interior de São Paulo. Os supermercadistas começaram a se encontrar, trocar ideias, experiências, em 1960. O movimento cresceu e culminou com a fundação da Apas em 1971, com sede em São Paulo.
Nos planos econômicos pelos quais o Brasil passou, os supermercados e suas máquinas que remarcavam preços eram considerados os “inimigos” do consumidor…
Tivemos essa experiência muito desagradável que começou com o Plano Cruzado. O governo jogou nas costas dos varejistas a culpa pela inflação. Mas ao longo dos anos, ficou muito claro para o consumidor que ele se deixou levar pela conversa do governo. O consumidor percebeu que o preço já vinha formado. O governo emitia o dinheiro e gerava inflação. No Plano Real, quando o governo fez a sua parte, a economia se estabilizou. Os supermercados ajudaram a combater a inflação.
O setor é muito competitivo?
Sim, sem dúvida. Todos disputam o consumidor através de ofertas, de promoções, negociando com os fornecedores e repassando para o consumidor. Os supermercados são os grandes aliados do consumidor frente à inflação.
Como a Apas veio para a Lapa?
A Apas sempre teve a sede aqui na Lapa. Antes, era na Avenida São Guálter.
A sede também é espaço cultural, de eventos…
Nós projetamos o edifício para outras utilizações. Nós o chamamos de Espaço Apas. Locamos para casamentos e outros eventos. É uma forma de gerar recurso. Temos uma boa estrutura, com estacionamento e tudo o mais. E vamos desenvolver atividades culturais.
O que o consumidor procura em um supermercado?
A comodidade, se a loja está perto de casa. Outra coisa é o atendimento que deve ser simpático. A limpeza da loja é muito importante para o cliente. Essas exigências apareceram depois que a inflação deixou de ser um problema. Nós sempre soubemos que esses detalhes são importantes para o cliente.
O fim da inflação modificou o comportamento do consumidor?
O que nós percebemos ao longo dos anos, com a estabilidade econômica é que muitas verdades puderam ser confirmadas. O consumidor ficava meio perdido com a inflação. Naquele momento, todas as análises econômicas eram difíceis de serem feitas porque a inflação distorcia tudo. Então, o que percebemos que com a estabilidade, o consumidor pode fazer uma melhor análise. E isso fez com que ele começasse a entender que onde ele comprava poderia não ser o melhor lugar. Ele foi se adaptando e usou outras atribuições que as lojas precisam ter… Antes, ele se preocupava em comprar o mais rápido possível para manter o poder de compra do dinheiro.
Mudou também o número de idas ao supermercado?
Antes, ele fazia uma compra mensal. Ia longe de casa, se precisasse. Com a estabilidade econômica, a compra passou a ser mais frequente e o cliente vai mais vezes ao supermercado. Hoje, não há necessidade de estocar. Muitos clientes vão às nossas lojas três ou quatro vezes por semana.
Isso é bom?
Sim, é bom. Essa frequência de visita faz com que o produto esteja sempre mais fresco. Tanto na prateleira como na dispensa do cliente. Dá uma dinâmica de consumo favorável a toda a cadeia produtiva. O cliente busca lojas próximas da sua residência.
O poder aquisitivo cresceu e o consumo também?
Nestes últimos quatro anos, temos uma mudança de comportamento de consumo, devido a um ganho de renda adicional. Principalmente as faixas D e E. E o nosso setor percebe essas mudanças imediatamente.
O consumidor brasileiro é diferente dos demais consumidores do mundo?
Em função das situações econômicas que nós já vivemos, inflação, surgiu o parcelamento nos cheques e no cartão de crédito. Foi uma forma que o varejo encontrou para superar essas dificuldades dos consumidores. Mas de uma maneira geral, o nosso consumidor é igual aos de outros países, nas necessidades do que ele espera em relação a um supermercado.
Que dicas o senhor daria para o consumidor aproveitar melhor sua ida ao supermercado?
Comprar o produto da safra é básico. O produto da época terá um preço melhor. É uma máxima que vale sempre. Principalmente nos hortifrutis. E é sempre bom fazer a pesquisa de preço.
Quais ações sociais a Apas faz?
A Apas tem a Mulher Apas, que é presidida pela esposa do presidente, no caso, minha esposa, Suzana Sanzovo. É o braço social da Apas. São vários projetos. Um deles é o “Vaga Certa”. A legislação obriga os supermercadistas, a partir de um certo número de funcionários, a contratar jovens com 16 anos ou mais. Nós estamos selecionando estes jovens, capacitando, dando orientação para que possam ocupar as vagas que os supermercados oferecem.
Quantos jovens participam?
Já selecionamos 50 jovens. Todos daqui da região Oeste. Eles estão sendo capacitados. Agora esperamos a abertura das vagas por parte dos supermercados da região.
E o projeto Mãos Feitas?
Preparamos mulheres para que se tornem manicures. Temos cursos de forno e fogão. São parcerias com as subprefeituras de Pirituba e da Lapa. Eles selecionam as candidatas que estão desempregadas e procuram uma recolocação adequada no mercado.
Vocês adotaram uma praça aqui próximo da sede…
É uma ação de sustentabilidade. Nós cuidamos da praça vizinha aqui da sede. E todo o nosso prédio tem esse rigor em sustentabilidade. Racionalidade do uso da água, energia. Acabamos com os copos plásticos…
Como a Apas vê o problema causado pelas sacolinhas plásticas?
São os três erres: reutilização, redução e reciclagem. O objetivo é que seja bom para o meio ambiente. No passado, tínhamos sacos de papel. Isso mudou, porque o saco de papel rasgava, umedecia. E o consumidor reclamou. Surgiram os sacos plásticos. A comodidade e a versatilidade foram fundamentais.
E como a Apas pretende mudar esse comportamento?
Agora elas estão causando problemas. Antes tinha o saco de papel. Depois veio a de plástico. O consumidor passou a usar como saco de lixo, então os milhões de sacos que vão para aterros sanitários comprometem a vida útil dos aterros. É uma questão de comportamento. Em breve teremos sacolas biodegradáveis e acho que será uma solução. Além das retornáveis. Cada empresa tem adota uma ação mais ou menos arrojada.
E grupos como os da terceira idade e com necessidades especiais?
Temos nos preocupado com todos os grupos que têm necessidades especiais. Até porque a clientela da terceira idade, por exemplo, está crescendo e a população brasileira está envelhecendo. E são consumidores ativos. Isso gera tanto produtos específicos por parte da indústria como um atendimento especial de nossa parte. Inclusive vamos ter ações com os grupos de terceira idade da Lapa.
A Apas participou do Ação Lapa que aconteceu no dia 17 de outubro…
Nós queremos atuar com a comunidade. Se os nossos associados se envolvem com suas comunidades, nós da sede também devemos nos envolver. Aqui na Lapa, procuramos nos relacionar com as outras entidades. Encontramos aqui na Lapa uma sociedade civil muito bem estruturada. E vamos continuar.
Qual é a vantagem da Apas estar aqui na Lapa?
O que gosto muito daqui da Lapa é esse relacionamento com as outras entidades e que parece muito com o interior. Tem uma sociedade civil organizada e uma boa qualidade de vida para quem mora por aqui. Sou de Jaú e o primeiro caipira a se tornar presidente da Apas. Para mim, é uma alegria fazer parte da Lapa.