Viver
é muito mais do que comer e morar dignamente. Para viver bem, é
essencial atender todas as necessidades do corpo, da mente e do
espírito – e isso requer um conjunto de fatores. Sem nos alongarmos
nesses itens, podemos destacar que um fator importante do ser humano é
o sexo. Não essa banalidade que vemos divulgadas por aí, mas o direito
pessoal de ter uma vida saudável nesse quesito.
O psicólogo Oswaldo
Rodrigues Jr., do Instituto Paulista de Sexualidade, há 25 anos na
profissão e há 14 no comando de sua clínica, trata de questões ligadas
à sexualidade, e é referência no País e no exterior sobre o assunto.
Prestes a iniciar um grupo de estudo sobre disfunção erétil (veja box
no final da entrevista), ele fala sobre sua experiência clínica. Numa
casa tranquila, próxima à Avenida Sumaré, Oswaldo nos concedeu esta
entrevista.
É difícil falar sobre sexo?
Na verdade,
fomos criados para cumprir alguns papéis principalmente relacionados ao
trabalho, à vida social, familiar. Relacionamento e sexo, bem, essas
são situações para quais nós, humanos, não fomos criados. A gente
aprende que temos que casar na frente de todo mundo, fazer a festa e
está tudo feito. Problema sexual é diferente de uma dor de dente. A dor
de dente faz o paciente ir ao dentista imediatamente. Os problemas
sexuais fazem com que as pessoas aguardem de cinco a dez anos antes de
procurar a solução para o problema. Então esses homens ou mulheres,
mesmo os mais jovens, demoram para procurar um tratamento.
E fica difícil saber o que vai acontecer, né?
Porque
sexo é uma coisa da qual a gente não aprende a conversar e a discutir,
e isso dificulta muito os casais e aí tem essas outras dificuldades que
vão acontecendo. Sexo não adianta pegar um livro, ler e saber o que
fazer. A comunicação é o ponto principal. E por isso procuramos
resgatar a situação que eles não desenvolveram, não puderam
desenvolver, tiveram dificuldades de desenvolver e aí conseguimos fazer
alguma coisa, através de um processo de psicoterapia que implica mudar
atitude e facilitar os novos comportamentos.
Isso é muito comum entre os casais?
Uma
das coisas que a gente percebe é que muitas pessoas, muitos casais
precisam de melhorias nas suas vidas sexuais. Algumas pessoas têm
queixas específicas sexuais, outras têm queixas um pouco mais
nebulosas, e a nossa proposta é fazer atendimento em psicologia, em
psicoterapia, em pessoas ou casais que queiram melhorar seu bem-estar
sexual, com vistas de melhorar sua vida de forma geral. É muito comum o
que a gente chama de inadequação sexual do casal, quer dizer, como o
casal se integra sexualmente para que sinta bem com o outro. Muitas
vezes temos um casal aqui discutindo e aprendendo a se comunicar de uma
forma efetiva e afetiva para que o sexo e o relacionamento a dois possa
acontecer.
Quais são as principais queixas?
Atendemos
queixas específicas, como, por exemplo, dificuldade de ereção, de
controle ejaculatório, falta de ejaculação na relação, dificuldades
relacionadas a desejo, diminuição ou excesso, ou desejo descontrolado,
ou variações de comportamentos sexuais que às vezes são complicados de
serem sustentáveis num casal, ou mesmo socialmente. E mulheres com
queixas de orgasmo, com dificuldades de permitir ou ter penetração,
dificuldade de lubrificação vaginal, também dificuldade de desejo.
O que fazem os psicólogos?
Nosso
papel é ajudar esse período de comunicação, afetivo, fazer com que esse
casal aprenda uma comunicação emocional e sempre discutimos questões e
técnicas sexuais, as soluções dos próprios problemas específicos que
dependem de desenvolvimento e algumas vezes de técnicas, mas são na
verdade atitudes que envolvem pensamento, emoção e o próprio
comportamento. A técnica atinge só o comportamento, não atinge
necessariamente a contribuição e a emoção.
E quem procura mais, casais mais velhos ou casais mais novos?
Olha,
ao longo de 25 anos atendendo, tem uma variação de coisas. Por exemplo,
no final da década de 1980 e começo de 1990, existiam muitos homens
sozinhos que procuravam tratamento porque houve uma grande divulgação
das questões masculinas. Antes, na década de 1970 e começo de 1980,
existia muita divulgação das questões dos problemas femininos, através
das revistas femininas. Então, no final da década de 1980, começaram a
aparecer muitos homens sozinhos, que diziam ter um problema e queriam
resolver para chegar em casa já resolvidos. Depois ficou mais comum
recebermos pessoas mais velhas e depois começaram aparecer pessoas mais
novas por causas dessas pílulas. No Brasil, aconteceu um fenômeno
interessante, diferente dos Estados Unidos ou alguns países europeus,
onde essas pílulas são compradas por pessoas mais velhas de uma maneira
mais coerente.
Fale um pouco sobre esses comprimidos.
Muitos
homens podem ir até a farmácia e tomar um comprimidinho, por exemplo,
para experimentar. Mas eles não percebem que na bula diz que é e
necessário ter desejo sexual e é necessário ter ambiente erótico, ou
seja, na verdade dependemos da nossa parceira. É verdade que essas
pílulas funcionam e ajudam até mesmo quanto aos estímulos físicos, se
não houver nada errado. O que aconteceu no Brasil na última década?
Muitos jovens passaram a experimentar as pílulas e perceberam que elas
não funcionavam. Aí veio a sensação maior de carga de culpa.
Então nem todos tinham problemas?
Sim,
alguns não tinham o problema e agora passaram a ter! Começou a
acontecer de casais jovens estarem chegando até aqui. Atendemos até
adolescentes. Alguns com 15, 16 ou 17 anos chegam aqui trazidos pelos
seus pais, inclusive, que marcam consulta dizendo ‘nosso filho está com
problemas, descobrimos que ele está com impotência’. Uau! Se os pais já
estão sabendo, vamos lembrar que a intimidade e a privacidade já se
tornaram pública, então, para esse adolescente, se torna mais um
problema.
A maioria que vem aqui tem um relacionamento estável?
É,
80% deles vêm porque tem um relacionamento estável, mas ainda tem uma
porcentagem que vem sozinha. Tem gente que chega aqui até com 40 anos
de idade e diz não ter tido nenhuma relação sexual, não ter namorada.
No entanto, há muitos casais que procuram porque começaram a perceber,
até mesmo pela discussão mais pública, que sexo se faz a dois. Quando
ele vem sozinho, a primeira coisa que fazemos é perguntar pela
parceira, porque vai chegar um momento em que a parceira vai precisar
estar presente. Existe a questão individual que precisa ser tratada por
psicoterapia – os medos, as dificuldades de comunicação –, mas existem
momentos que a parceria precisa estar lá, é necessário troca.
Isso quer dizer que o casamento está em alta?
Não
sei te dizer, mas existe uma coisa na nossa cultura que valoriza o
casal. Uma coisa importante: homens solteiros morrem mais cedo, de 10 a
15 anos antes que os casados! Você sabe, os homens ainda acreditam que
viver sozinhos e solteiros seja um glamour porque saem com qualquer
uma, mas isso é mentira. Estatisticamente, os casados fazem mais sexo.
Porque os solteiros não saem todo dia para fazer sexo. Então são
fantasias mesmo.
Até o dia 14 de dezembro o Instituto Paulista de Sexualidade estará recebendo inscrições para a participação gratuita no Grupo de Tratamento para Disfunção Erétil.
A disfunção erétil é conhecida pela dificuldade ou incapacidade de obter ereção suficiente para relação sexual, dificuldade que pode agravar diversas outras áreas da vida social e pessoal do indivíduo, tais como baixa autoestima, ansiedade, depressão, sentimentos de culpa e prováveis desencontros conjugais. O tratamento será feito em consultas semanais de 90 minutos, às segundas-feiras, com início dia 4 de janeiro de 2010, para um grupo de 15 homens, no máximo. O tratamento é grátis e terá duração de oito meses.
O estudo será conduzido por psicólogos da clínica. Para maiores informações, telefone 3662-3139 ou e-mail inpasex@uol.com.br.